O idoso LGBT


Se a sexualidade na terceira idade pouco a pouco deixa de ser tabu, as formas de relacionamento não convencionais ainda são recriminadas. As políticas públicas de acolhimento e saúde voltadas para a população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), por exemplo, são pensadas apenas para as pessoas adultas, sem nada especificamente voltado para aqueles que já passaram dos 60. Excluídos do mercado de trabalho, afastados das famílias, os idosos LGBT muitas vezes são obrigados a voltar novamente para o “armário”.

O LGBT idoso das classes C e D têm muitas dificuldades de se inserir socialmente, portanto, ficam reclusos em casa. O tempo passa e a solidão aumenta, geralmente vivem em ambientes heterossexuais e frequentam bares e botecos, jogam dominó ou baralho para passar o tempo. É o “tio” que não casou e vive num quartinho no fundo do quintal da casa de parentes. Para esses idosos a aposentadoria não paga as contas do mês, remédios e tratamentos necessários à manutenção da saúde.

Os das classes A e B também têm dificuldades para se inserir socialmente, muitos trocam de residência para regiões litorâneas. Geralmente, vivem em ambientes mistos, tanto hetero como homossexual e frequentam locais gays, shopping Center, saunas, praticam ginástica e natação para passar o tempo. É o ‘’tio’’ intelectual e fechado no seu mundo e tem poucos amigos.

Vá a uma missa ou a um culto, parques, ILPIs ou em hospitais e tente encontrar um idoso LGBT. Estão invisíveis e fazem de tudo para não mostrarem a identidade. Os idosos se calam e não compartilham sua vida com ninguém por conta dos preconceitos.

Por vários motivos os homossexuais têm mais dificuldade para construir uma relação estável; muitos chegam à velhice solteiros, distantes de suas famílias e amigos. O medo da velhice vem acompanhado do medo da solidão e as pessoas LGBT estão consistentemente mais ansiosas em envelhecer do que as pessoas heterossexuais. Quando gays idosos se iludem e se comparam ao heterossexual, surge uma crise existencial relacionada à questão da família de “sangue”, surge uma necessidade voraz de constituir família, porém, para muitos o tempo passou e nada foi feito. Atualmente, com a regulamentação do casamento homoafetivo, pelo CNJ, possibilita que os casais do mesmo sexo possam adotar em conjunto da mesma forma que os heterossexuais, desde que comprovem os requisitos da lei. Eles têm os mesmos direitos e deveres dos heterossexuais, inclusive o processo de adoção. Porém, com a observação do cotidiano e a literatura gerontológica têm mostrado que filhos e familiares não são garantias dos cuidados na velhice.

A realidade então, para o idosos LGBT de hoje, vem à medida que a independência e autonomia vão se perdendo, com a rede de suporte familiar reduzida, eles são mais propensos a contar com serviços de suporte formal à medida que envelhecem. Estudos mostram uma maior probabilidade dessa população depender de serviços externos, como ILPIs e serviços sociais, do que pessoas heterossexuais e a maioria teme que os serviços não atendam às suas necessidades.

A orientação sexual do idoso não deve alterar a conduta ou postura profissional, o objetivo do atendimento é suprir as necessidades do paciente de forma igualitária. Porém, saber a orientação sexual e a identidade de gênero são de grande importância, pois promovem maiores níveis de satisfação do serviço prestado, facilidade do acesso ao serviço de saúde, melhor controle de doenças crônicas, melhor adesão em prevenção e tratamento, e prevenção de patologias particulares de cada pessoa. É indispensável que o ambiente de atendimento à saúde do idoso seja seguro, confortável e receptivo, para que o paciente se sinta à vontade de ser quem ele realmente é.  Não presuma, faça perguntas.

A atitude do profissional de saúde pode auxiliar o idoso a enfrentar a depressão, preconceito, isolamento e tantas outras barreiras impostas pela sociedade.

Como fisioterapeuta, você se sente preparado para atender as necessidades de um idoso LGBT? Pense e reflita: esteja preparado para atender um idoso sem pré conceitos.

Texto: Larissa Andrade, Maristela Chaya, Melissa Pinheiro (especializandas do Curso de Fisioterapia em Gerontologia)

Revisão: Deise Ferreira – Gestora do Curso de Especialização de Fisioterapia em Gerontologia – HCFMUSP

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