Ultrassonografia muscular: inovação na avaliação do paciente crítico


Sobreviver à doença crítica não é mais o maior desafio dos pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). O grande desafio começa no momento da alta, no qual o paciente muitas vezes se depara com grandes dificuldades para retomar às suas atividades de vida diária.

Alterações musculares e funcionais são cada vez mais prevalentes e incapacitantes, a medida que a mortalidade hospitalar reduz. Dessa forma, profissionais e pesquisadores têm investido grandes esforços em estratégias de intervenção precoce para otimizar os desfechos e a condição funcional pós alta. Ao mesmo tempo, torna-se imprescindível identificar os pacientes com maior risco de desenvolver alterações e monitorar a condição muscular e funcional ao longo da internação.

Nesse contexto tem crescido o interesse sobre a utilização da ultrassonografia muscular na UTI, uma vez que é uma ferramenta portátil, de baixo custo, com ampla disponibilidade nas UTIs e que permite avaliar a condição muscular em tempo real. A “Ultrassonografia Point of Care” é uma modalidade de avaliação dinâmica que traz novas perspectivas ao profissional que atua na UTI, podendo contribuir para avaliar e estabelecer um planejamento terapêutico eficiente. Além disso, pode auxiliar a monitorar os efeitos e resultados das terapêuticas utilizadas.

Na literatura científica a ultrassonografia muscular é investigada sob três aspectos principais: quantidade, qualidade e arquitetura muscular (Figura 1). O grupo muscular mais investigado é o quadríceps, uma vez que estudos anteriores referem que a sua condição reflete a condição muscular do indivíduo de uma maneira global.

Apesar da prática clínica da ultrassonografia muscular na UTI ainda ser incipiente, alguns estudos têm demonstrado resultados interessantes. Hernández-Socorro et. al(1), em 2018, avaliaram o quadríceps de pacientes graves com suspeita clínica de fraqueza muscular adquirida na UTI e observaram que a área de secção transversa e a espessura diminuíram significativamente ao longo da internação. Também identificaram que o músculo sofre mudanças qualitativas relacionadas à ecogenicidade, a atividade angiogênica e a presença e ausência de fasciculações quando comparadas a um grupo controle.

Outro estudo recente(2) identificou que a massa muscular do reto femoral e vasto intermédio à admissão na UTI parece ser um fator de proteção para mortalidade hospitalar, independente da severidade da doença. Puthucheary et. al.(3), compararam a ecogenicidade à biópsia em 30 pacientes internados em UTI e encontraram uma forte associação entre os métodos, fortalecendo a possibilidade de que a ultrassonografia pode detectar alterações da qualidade muscular, como a mionecrose e inflamação da fáscia.

Um aspecto importante se refere a relação entre as alterações musculares identificadas no ultrassom e a capacidade funcional. Parry et. al. (4) avaliaram pacientes ventilados mecanicamente com o objetivo de caracterizar as alterações musculares durante 10 dias de permanência na UTI e verificar a relação entre a ultrassonografia e a capacidade funcional. Os autores encontraram que a redução da massa muscular do reto femoral e vasto intermédio acontece rapidamente. Além disso, referem que a avaliação do vasto intermédio parece ter um papel importante na funcionalidade do paciente e merece atenção, pois foram encontradas maiores alterações da qualidade muscular ao longo do tempo e maior correlação com as avaliações da capacidade funcional: Physical function in intensive care test scored (PFIT-s) e ICU mobility scale (IMS).

A ultrassonografia permite uma avaliação dinâmica, em movimento, em tempo real. Porém as aplicabilidades clínicas investigadas são muitas vezes estáticas, mensuram quantidades e condições dos grupos musculares, como um retrato. Apesar dos avanços ainda há muito a se compreender sobre a aplicabilidade da ultrassonografia muscular e como ela pode ser útil na busca por melhores desfechos na terapia intensiva.

Escrito por: Caroline Gomes Mol, Renato Batista dos Reis e Catherine Cely Oliveira

 

 

 

REFERÊNCIAS

1. Hernández-Socorro CR, Saavedra P, López-Fernández JC, Ruiz-Santana S. Assessment of Muscle Wasting in Long-Stay ICU Patients Using a New Ultrasound Protocol. Nutrients [Internet]. 2018 Dec 1;10(12). Available from: http://dx.doi.org/10.3390/nu10121849

2. Martín CAG, del Carmen Ubeda Zelaya R, Zepeda EM, Méndez OAL. ROUNDS Studies: Relation of OUtcomes with Nutrition Despite Severity—Round One: Ultrasound Muscle Measurements in Critically Ill Adult Patients [Internet]. Vol. 2018, Journal of Nutrition and Metabolism. 2018. p. 1–7. Available from: http://dx.doi.org/10.1155/2018/7142325

3. Puthucheary ZA, Phadke R, Rawal J, McPhail MJW, Sidhu PS, Rowlerson A, et al. Qualitative Ultrasound in Acute Critical Illness Muscle Wasting. Crit Care Med. 2015 Aug;43(8):1603–11.

4. Parry SM, El-Ansary D, Cartwright MS, Sarwal A, Berney S, Koopman R, et al. Ultrasonography in the intensive care setting can be used to detect changes in the quality and quantity of muscle and is related to muscle strength and function [Internet]. Vol. 30, Journal of Critical Care. 2015. p. 1151.e9–1151.e14. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j.jcrc.2015.05.024

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