Segundo as diretrizes da política Nacional de Humanização (HumanizaSUS), o acolhimento forma a base da relação entre a equipe de saúde e os pacientes. Para que ele aconteça de forma adequada, a escuta qualificada é essencial para o planejamento terapêutico, ampliando a efetividade das práticas de saúde.
Nos últimos anos muito tem se ouvido falar sobre escuta qualificada. Mas o que de fato seria escutar de modo qualificado o outro? A psicóloga Jaqueline Souza Parisoto, responsável técnica do Serviço-Escola de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, discute esse conceito, que é permeado de sentidos e significados:
“Primeiro: existe uma diferença entre ouvir e escutar. Ouvir tem a ver com o sensorial, com nossos ouvidos, propriamente dito. Exemplo: ouvimos uma orquestra. Agora escutar se dá por outras vias. Escutar tem relação com o outro; com o interesse pelo outro. Arriscaríamos dizer que escutar é uma operação complexa, cuidadosa e ética. A palavra escutar, originada do latim “auscultare”, diz do método da escuta médica, a auscultação, que significa a escuta dos barulhos internos do sujeito. Quando pensamos na escuta qualificada entre profissionais de saúde e usuários estamos sinalizando a importância do cuidado individual e integral e da capacidade deste primeiro compreender o sofrimento que se manifesta, além do significado imediato de ações e palavras do segundo.
Eis o desafio: na correria das atividades do dia a dia, como parar e escutar o que o outro está tentando nos dizer? Como perceber que além daquela dor física ou daquele sintoma existe algo que precisa ser dito? Sabem quando fazemos isso? Quando nos dispomos a perguntar para dona Maria, por exemplo, como foi a semana dela, ou como estão as coisas em casa; ao invés de simplesmente dizer “oi dona Maria, tudo bem?”. Parece simples, não é mesmo?
Ressalta-se que a escuta qualificada é um dos pilares do trabalho proposto na Política Nacional de Humanização e no Guia Prático de Matriciamento em Saúde Mental, que indicam as ferramentas para uma ação terapêutica que promova o vínculo, descrevendo, além da escuta: o acolhimento – estabelece o vínculo e permite o cuidado; o suporte – representa continente para os sentimentos envolvidos, reforçando a segurança daquele que sofre, empoderando-o na busca de soluções para seus problemas; o esclarecimento – desfaz fantasias e aumenta informação, reduzindo a ansiedade e a depressão; facilitando a reflexão e permitindo uma reestruturação do pensamento com repercussões nos sintomas emocionais e até mesmo físicos.
Sabe-se que quando o usuário narra seus sentimentos, sofrimentos e pensamentos, ele tem a chance de escutar a si mesmo, enquanto fala com o outro. São nessas relações interpessoais, entre o profissional da saúde e o usuário, que ocorrem maiores aproximações, gerando relações de confiança, vínculo e consequentemente ocasionam a prática do acolhimento. Este caminho, por fim, transforma a relação e permite resultados por vezes mais satisfatórios com as intervenções propostas.
A escuta deve ser entendida como uma atitude ativa, que exige um esforço por parte de quem escuta para compreender o significado do que é dito. Envolve ainda um compromisso com o que é dito e assim co-responsabiliza aquele que se dispõe a fazê-lo. E não se engane achando que a escuta tem a ver somente com a prática de psicólogos. Não, não! Todos os profissionais da saúde têm a possibilidade de desenvolver a escuta qualificada. Lembre-se apenas que aquele que se põe na função de escutar qualificadamente o outro deve também escutar a si próprio. Cabem as equipes pensar na qualidade de vida do trabalhador, na formação contínua daqueles que estão em contato direto com situações de sofrimento e vulnerabilidade; além da criação de espaços de compartilhamento das situações vividas e atendidas cotidianamente”.
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Escrito por Juliana Barbosa Goulardins
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